Belmonte, a vila onde nasceu Pedro Álvares Cabral, pertence ao distrito de Castelo Branco e está situada no Monte da Esperança, em cujo morro mais rochoso foi construído nos finais do século XII o seu castelo.
Belmonte foi a quarta Aldeia Histórica que conhecemos. Minha ideia inicial era fazer o roteiro de três Aldeias (Belmonte, Sortelha e Castelo Novo) com uma agência da cidade de Belmonte. Encontrei a agência na internet, achei o programa legal, mantive um contato por facebook, enviei e-mail falando de nosso interesse, perguntei se havia possibilidade de nos encaixarmos em algum grupo organizado por eles para o dia 03 de setembro, sábado, mas infelizmente não obtive resposta. Penso que poderiam ter respondido alguma coisa, dizendo não ser possível, não haver grupo formado para aquele sábado, ou não haver espaço no grupo para mais quatro pessoas, sei lá, alguma coisa, qualquer coisa ficaria mais simpático do que nada. 🙁 Assim, conhecemos Belmonte, por conta própria, como estávamos fazendo até então.
A vila de Belmonte fica 30 km ao sul de Guarda. Nesse dia nosso programa era Belmonte, Sortelha e depois Monsanto onde ficaríamos hospedados. 100 km de estrada e aproximadamente 2 horas de viagem.
A estátua de Cabral
Nossa primeira parada foi no Largo António José de Almeida onde se encontra a estátua de Pedro Álvares Cabral. Seguindo pela Rua Pedro Álvares Cabral, chegamos nesse Largo, meio por acaso e nos deparamos com a estátua de Cabral totalmente por acaso.
A estátua de Pedro Álvares Cabral foi executada pelo artista português Álvaro de Brée, em 1961. Sua inauguração aconteceu em 1963, pelo então Presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek de Oliveira. Em Portugal só existem três estátuas de Cabral, esta em Belmonte, uma em Lisboa e outra em Santarém.
Tiramos todas as as fotos possíveis com a estátua do “achador” do Brasil e seguimos com destino ao Castelo de Belmonte. Nesta altura da viagem, eu já havia visto tanto castelo medieval que eles já não eram mais tão fascinantes para mim, mas ainda assim encantavam! O castelo era pertinho, cera de 270 m de onde estávamos, mas como já havíamos aprendido que todo castelo medieval é em cima de um morro, fomos de carro. 🙂
O Castelo de Belmonte
Foi de D. Afonso III a autorização para a construção de uma torre e do castelo de Belmonte. Essa autorização foi concedida ao bispo D. Egas Fafes no ano de 1266.
Embora pertencendo à Coroa, o Castelo de Belmonte era administrado por um alcaide local e desde 1398 que esse cargo estava ligado aos Cabrais. O primeiro alcaide* foi Luís Alvares Cabral. Em 1446, D. Afonso V doou o castelo a Fernão Cabral, pai de Pedro Álvares Cabral, para a construção de sua residência. Fernão Cabral foi o primeiro alcaide-mor. Com Fernão Cabral se iniciou a época de maior destaque do Castelo e de Belmonte.
*alcaide – antigo governador de castelo, província ou comarca
Eu também queria ganhar um castelo!! 😉
Na muralha (foto acima) ainda é possível ver janelas panorâmicas e uma janela de estilo manuelino (no destaque, foto abaixo) que confirmam a adaptação do castelo para residência.
Observe que há uma distância de quase 200 anos entre a autorização para a construção e a doação do castelo. Embora os dois reis sejam “Afonso”, há uma distância temporal enorme entre eles. Veja aqui na Casa Real Portuguesa. O Castelo foi declarado como Monumento Nacional, em 1927.
No interior da torre de menage do castelo funciona um museu onde é exibido o material arqueológico resultado das escavações efetuadas.
A carta de Pêro Vaz de Caminha
Interessante que em Belmonte (não sei se em todo Portugal) eles se referem ao “achamento” do Brasil. Quando visitamos a cidade, estava em exposição no Castelo a carta do achamento do Brasil, escrita por Pêro Vaz de Caminha.
Foi a 1ª vez que a Carta de Pêro Vaz de Caminha estava sendo exposta fora de Lisboa. A carta que Caminha escreveu para D. Manuel I, contando sobre o “achamento” dessa nova terra (nós aqui), saiu da Torre do Tombo de Lisboa, com um enorme esquema de segurança para ficar durante seis meses exposta à visitação pública numa sala do Castelo de Belmonte onde foram criadas condições especiais para proteção e preservação do documento. Nós não chegamos a entrar na exposição para ver a carta, hoje eu tenho um grande arrependimento de não ter feito isso. 🙁
Igreja de Santiago e o Panteão dos Cabrais
A Igreja e o Panteão ficam bem próximos do Castelo. Na imagem do Google (abaixo) dá para observar um grande largo pavimentado com paralelepípedos, o Castelo à esquerda e a Igreja e o Panteão um pouco mais à direita.
Após a vista ao Castelo fomos conhecer a Igreja de Santiago e o Panteão dos Cabrais, onde se encontra a urna com os restos mortais de Pedro Álvares Cabral. Faltavam 10 minutos para as 13 horas e a Igreja fechava às 13h. Fizemos uma visita super rápida e contamos com a compreensão e simpatia da pessoa que atendia no local. Às 13 horas saímos da Igreja e do Panteão.
A Igreja de Santiago e o Panteão dos Cabrais estão classificados como Monumento Nacional. Supõe-se que a construção é de 1240, quando D.Maria Gil Cabral mandou erguer no local a Capela de Nossa Senhora da Piedade. Em 1433, os pais de Pedro Álvares Cabral mandam edificar a Capela dos Cabrais.
A pintura da capela-mor é do século XV. A figura ao centro representa Santiago que se apresenta em forma de peregrino, ao seu lado esquerdo Nossa Senhora da Esperança e ao lado direito a figura de São Pedro, calvo e de barbas brancas.
Os restos mortais de Pedro Álvares Cabral encontravam-se na Igreja da Graça, em Santarém, e foram trazidos para Belmonte em 1961.
A torre sineira só foi construída em 1860.
Em Belmonte há o Museu dos Descobrimentos, o Museu Judaico, o Ecomuseu do Zêzere e o Museu do Azeite. Para mim, interessava ver o Museu dos Descobrimentos, por motivos óbvios. 🙂
O Museu dos Descobrimentos
O edifício que foi residência da família Cabral, atualmente abriga a Biblioteca e o Arquivo Municipal. Na fachada principal, sobre o portão, está o brasão dos Condes de Belmonte. No terreno da residência foi construído o Museu dos Descobrimentos.
O Museu dos Descobrimentos/Centro de Interpretação “À Descoberta do Novo Mundo (DNM)” surge da vontade da Câmara Municipal de Belmonte em dar a conhecer um dos maiores feitos de sempre da História das Descobertas Portuguesas, o Achamento do Brasil.
“Este espaço propõe-se dar a conhecer, estudar e divulgar o feito de Pedro Álvares Cabral e a explorar a história da maior nação de expressão portuguesa, que ao longo de cinco séculos construiu-se através de uma extraordinária convivência de culturas.” Texto extraído do site da Câmara Municipal de Belmonte.
O museu é interativo, em uma das salas podíamos experimentar tocar música com nossos movimentos. Em outra sala, havia havia uma coisa curiosa, eram palavras usadas no português do Brasil penduradas no teto. Mais adiante tínhamos frutas e produtos típicos do Brasil.
“A Palavra é completa vista e ouvida” Fernando Pessoa / Bernardo Soares – Livro do Desassossego
“No Brasil a Língua Portuguesa enriqueceu- se consideravelmente com o contributo indígena, especialmente o Tupi para os nomes de espécies da fauna e da flora, nomes de objetos, topônimos e antropônimos. Também as influências africanas com palavras de origem banta e nagô, trouxeram novas palavras e expressões.”
Horários de visitação
Aberto de terça a domingo
HORÁRIO DE INVERNO (15 de Setembro a 14 de Abril)
das 9h00 às 12h30m e das 14h00m às 17h30m
HORÁRIO DE VERÃO (15 de Abril a 14 de Setembro)
das 9h30m às 13h00m e das 14h30m às 18h00m
Fechado
Segundas-feiras, 1 de Janeiro, Domingo de Páscoa, 1 de Maio e 25 de Dezembro.
Preços – A vista ao museu é paga e há desconto para jovens e seniors. Há também a possibilidade de comprar ingresso combinado. Veja no site da CM-Belmonte.
Torre de Centum Cellas
A Torre de Centum Cellas talvez seja um dos monumentos mais espetaculares de Belmonte. De acordo com os estudos feitos após as escavações na década de 90, seria uma vila romana do Século I d.C. de propriedade de Lucius Caecilius um abastado cidadão romano, negociante de estanho.
Não chegamos a visitar a Torre por aquelas bobagens que a gente faz nas viagens, mas quem estiver planejando uma viagem às Aldeias Históricas de Portugal, for passar por Belmonte e gostar de história, eu recomendo colocar a visita à Torre de Centum Cellas no roteiro.
Onde comemos
Após visitarmos o Panteão dos Cabrais, saímos procurando um local para almoçar, queríamos algo simples, simpático e saboroso. Fomos andando, procurando e chegamos no Restaurante As Ferreirinhas. Paramos na porta, espiamos para dentro, achamos legalzinho e fomos recebidos com muita simpatia pela proprietária que nos convidou para entrar.
Meu stress em viagem sempre é a refeição! 🙁 Depois das habituais dúvidas e indecisões sobre o que e quanto pedir, nos decidimos pelo prato do dia, é tipo menu, com entrada, prato principal e sobremesa. A comida é caseira, muito gostosa e preparada pelo proprietário. Saímos tarde do restaurante, ele já estava vazio e pedi autorização da proprietária para fazer algumas fotos.
Horário de funcionamento do restaurante: das 9h às 24h.
Endereço: R. Alm. Cândido dos Reis, 7, Belmonte.
Adorei a sobremesa 🙂 🙂 🙂
Após conhecermos Belmonte seguimos para Sortelha, a quinta Aldeia Histórica que iríamos conhecer nesta viagem, e depois Monsanto, onde pernoitamos na Casa da Tia Piedade.
As Aldeias Históricas de Portugal são um show à parte, não conseguimos conhecer todas, mas as que conhecemos são lindas demais! Essas são as Aldeias Históricas que conhecemos. Eu adorei todas elas, penso que você vai gostar.
Trancoso || Marialva || Castelo Rodrigo || Belmonte || Sortelha ||
Monsanto || Idanha-a-Velha
Por onde andamos em Portugal
– Roteiro de 18 dias em Portugal, um país para conhecer, curtir e voltar…
– Chegando em Lisboa - Aeroporto Humberto Delgado
– Onde e o que Comer em Lisboa
– A Vila de Óbidos, a prenda de casamento da Rainha Santa Isabel
– Mosteiro de Alcobaça, Pedro e Inês de Castro
– O Mosteiro da Batalha, Aljubarrota e a promessa de D. João de Avis
– A encantadora Coimbra
– Coimbra e Mosteiro de Santa Clara-a-Velha
– Coimbra em fotos
– A Universidade de Coimbra
– Braga, o Coração do Minho
– Fotos do Santuário do Bom Jesus do Monte
– Guimarães, Aqui Nasceu Portugal
– A Quinta da Aveleda, o passeio e a degustação de vinhos
– Guarda, a Serra da Estrela e as Aldeias Históricas de Portugal
– A aldeia histórica de Trancoso e muitas emoções nesse dia
– A aldeia de Marialva e o Museu do Côa
– A aldeia histórica de Castelo Rodrigo e a bronca das meninas
– Belmonte, a vila onde nasceu Pedro Álvares Cabral
– A aldeia de Sortelha em Portugal
– A aldeia de Monsanto e a Casa da Tia Piedade
– Idanha-a-Velha, a última das aldeias que visitamos
e muito mais...
Dicas de onde comer bem e barato em Lisboa é aqui! 🙂
Onde se hospedar
Nós ficamos hospedados em Guarda e depois em Monsanto na Casa da Tia Piedade, mas dependendo de como você monta o roteiro de viagem, dá para ficar hospedado em Belmonte ou Covilhã que fica a ± 20 km de Belmonte.
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Referências
Aldeias Históricas de Portugal
Câmara Municipal de Belmonte
Carta de Pero Vaz de Caminha em Belmonte
Arquivos Digitalizados
Foto de capa: Maria Eugênia
Dilma, eu sou completamente apaixonada pelas aldeias históricas beirãs, mas entendo quando diz que vemos tantos castelos que acabamos por não nos impressionarmos facilmente. Portugal é assim ?
Abraço
Oi Ruthia, tudo bem? Também sou uma apaixonada pelas aldeias históricas, tanto é que atravessei o Atlântico para conhecê-las e recomendo para todo mundo que vai visitar Portugal. ? Não é que não nos impressionamos facilmente pelos castelos medievais, é que o primeiro que a gente conhece é um ohh!, o segundo também é um oh!!! e assim fomos. Conheci todos os castelos medievais por onde passei, só não conheci o Castelo dos Mouros de Sintra. Fizemos um bate-volta para Sintra e não cabiam todas as atrações num único dia, aí sacrificamos o Castelo dos Mouros (com uma dorzinha no coração) e escolhemos conhecer o Palácio da Pena e o Palácio Nacional. Quando comentei no post que “eles já não eram mais tão fascinantes para mim, mas ainda assim encantavam!” eu quis dizer que naquela altura da viagem eles não eram mais tão novidade quanto os primeiros que vimos, mas acho que não fui muito feliz na minha explicação, né? ?
Muito bem explicado seu post!
Gostei da parte: “mas como já havíamos aprendido que todo castelo medieval é em cima de um morro, fomos de carro”, pois nós já apanhamos quando fomos conhecer um Castelo!
Verdade né? hahaha
Amei as explicaçoes! Pretendo conhecer Portugal , em especial Belmonte; visitarei um grande amigo que reside em Belmonte. Não demorarei a ir…Sei que vou amar essa viagem. Abraços e muito obrigada!
Obrigada Maria Amélia é tão bom receber realimentações como essa sua, nos dá a certeza que estamos seguindo o caminho correto. Nosso objetivo é ajudar outros viajantes com o que aprendemos e registrar para nós mesmos nossas memórias de viagem.
Se precisar de mais informações escreva. Abs, <3
Que simpática essa vila. Parece ter um clima muito agradável. E que linda a Torre de Centum Cellas. Meus pais adoram Portugal e vão voltar a visitar ano que vem, vou passar esse passeio pra eles, porque acho que não fizeram ainda. =)
Minha frustração foi não ter conhecido a torre. Focamos muito no medieval e acabamos deixando de conhecer as relíquias romanas, o que foi uma pena.
Que delícia de cidade. E adorei o “achamento”. Muito adequado kkkk. O museu do descobrimento deve ser sensacional!
Também achei o “achamento” sensacional, o melhor termo para definir como Cabral encontrou o Brasil. O Museu é interessante porque somos brasileiros e tem muita coisa do Brasil lá. O único senão é sobre a escravidão no Brasil (na época da escravidão o Brasil pertencia à Portugal) eles passam bem por cima… Parece que o tema não é muito agradável a eles.
Que roteiro incrível! Pelo jeito, a falta de guia nem estragou o passeio, né?
Portugal é um país que tenho muita vontade de conhecer, lendo seu post, fiquei com ainda mais vontade.
Um abraço
Na verdade, a falta do guia estragou um pouco porque perdemos de conhecer o contexto histórico e no roteiro havia visitação e desgustação dos produtos típicos da região hahaha. Achei que teríamos ganho, mas a agência não me respondeu, paciência 🙁
Muito legal conhecer essa cidade, eu nunca tinha escutado falar. Adorei também o “Achamento do Brasil”. rsrsrs
“Achamento” ficou bem legal! 🙂 Belmonte é uma das 12 aldeias históricas de Portugal. Não deu para conhecer todas porque não dava tempo, tive que selecionar algumas. Coloquei Belmonte entre as selecionadas por ser a terra onde nasceu Pedro Alvares Cabral, tem tudo a ver com o Brasil.
Tenho nos planos fazer uma viagem toda focada em Portugal para conhecer bem o país. Adorei as dicas!
As últimas viagens que fizemos temos procurado focar só num país, a gente aproveita mais. Ficamos 18 dias em Portugal, vimos muita coisa interessante e assim mesmo faltou tempo, algumas cidades foi muito corrido.