Mosteiro de Alcobaça, Pedro e Inês de Castro

Mosteiro de Alcobaça, Portugal - onde estão sepultados D. Pedro e Inês de Castro

O Mosteiro de Alcobaça e a história de Inês de Castro.
Portugal, diário de uma viagem.

O Mosteiro de Alcobaça fica a 122 km de Lisboa e a 40 km de Óbidos. É uma edificação grandiosa que impressiona por sua beleza e seu tamanho colossal. Chegamos lá em torno de 15 horas, era nosso segundo dia em Portugal e tínhamos muita coisa para conhecer.

Sobre o Mosteiro de Alcobaça

O Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, ou simplesmente Mosteiro de Alcobaça integra, desde 1969, a Lista de Patrimônio Mundial da UNESCO. É uma extraordinária edificação que teve sua construção iniciada em 1178. Considerado o monumento fundador do Estilo Gótico Cisterciense em Portugal, foi eleito em 2007 uma das Sete Maravilhas de Portugal.

Mosteiro de Alcobaça, Portugal
Mosteiro de Alcobaça, Portugal. Foto: Maria Vitória

O mosteiro está estreitamente ligado à história de Portugal. Em abril de 1153, D. Afonso Henriques, primeiro Rei de Portugal, doa ao Abade Bernardo de Claraval e à Ordem de Cister um território de 44 mil hectares, onde seria construído o Mosteiro de Alcobaça. Os monges praticavam atividades agrícolas, de pastoreio e de povoamento no território recebido. O Abade de Claraval era uma figura extremamente popular e influente em matérias públicas em sua época.

A grande rosácea e as torres da Igreja do Mosteiro de Alcobaça.
A grande rosácea e as torres da Igreja do Mosteiro de Alcobaça. Clique ampliar.

A visita ao Mosteiro

O claustro de um mosteiro é o conjunto composto pelo pátio interno e as galerias laterais que o circundam. O Claustro de D. Dinis, também conhecido como Claustro do Silêncio, por ser proibido, na época, conversar no local, é o único claustro medieval do Mosteiro de Alcobaça.  No início do século XVI, no reinado de D. Manuel I foi adicionado um segundo andar ao claustro.

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Claustro D. Dinis no Mosteiro de Alcobaça. Foto: Mary
O pátio interno do claustro do Mosteiro de Alcobaça, Portugal.
O pátio interno do claustro D. Dinis do Mosteiro de Alcobaça.

O lavabo fica na galeria norte do Claustro de D. Dinis.

Lavabo do Claustro D. Dinis - Mosteiro de Alcobaça, Portugal
Lavabo do Claustro D. Dinis – Mosteiro de Alcobaça. Foto: Maria Vitória

A Sala dos Reis possui nas paredes painéis setecentistas de azulejos que narram episódios lendários da fundação do mosteiro.

Painel da Sala dos Reis que fala da Fundação do Mosteiro de Alcobaça, onde D. Afonso Henriques lança a primeira pedra do edifício.
Painel da Sala dos Reis. D. Afonso Henriques lança a primeira pedra da construção do Mosteiro de Alcobaça.

Na parte superior, nas paredes, estátuas representam os Reis de Portugal.

O refeitório do mosteiro é um espaço grandioso.

Mosteiro de Alcobaça, Portugal, o refeitório.
Mosteiro de Alcobaça, o refeitório.

A cozinha do Mosteiro de Alcobaça.

A cozinha do mosteiro vista por outro ângulo.

A cozinha do Mosteiro de Alcobaça.
A cozinha do Mosteiro de Alcobaça. Foto: Maria Vitória.

 

Agora… por que esse mosteiro é tão vazio?

Tem gente que adora, tem gente que reclama e tem gente que não vê diferença, mas existe uma explicação e ela é muito boa!

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Nave central da Igreja do Mosteiro de Alcobaça. Foto: Maria Vitória

O mosteiro de Alcobaça pertence à Ordem de Cister, que foi fundada a partir de uma crítica que alguns abades faziam à Ordem de Cluny, a mais vigente até então. Cluny, como seguidora da Regra de São Bento, começou muito humilde e caridosa, mas com o passar dos anos, os clérigos passaram a acumular bens e riquezas, nisso enfeitaram suas abadias com estátuas, púlpitos maravilhosos, detalhes, etc. Roberto de Champagne (fundador da ordem) e Bernardo de Claraval (personagem mais importante da ordem) faziam duras críticas à essa deturpação de Cluny, que não mais refletia a humildade pregada por Cristo, e é nessa crítica que se pauta a Ordem de Cister. Seus mosteiros serão humildes e simples, sem ou com poucos: detalhes, estátuas, cores, enfeites e sem vitrais ou ouro pra lá e pra cá. Se você for perceber, a catedral não tem púlpito, pintura, nenhuma ou poucas estátuas ou imagens, quadros, detalhe nas colunas ou presença de criptas, pois para os cistercienses, a função na igreja era única: orar. A função de toda essa “tranqueira” seria apenas distrair os monges da prece e da meditação, sendo então desnecessários. Os vidros são todos transparentes, sem vitrais coloridos nem nada, pois assim entra mais luz e deixa tudo mais claro. Os mosteiros cistercienses costumam ser brancos e muito bem iluminados, porque para eles a luz é deus.

Mosteiro de Alcobaça, Portugal
Mosteiro de Alcobaça.

“ah mas eu vi estátua, azulejo, detalhe e túmulo bonito lá dentro.”

Sim… sim… a Ordem de Cister, ironicamente, teve o mesmo fim de Cluny. Depois de um tempo ficaram ricos, se aliaram a reis e nobres e se afastaram da Regra de São Bento, portanto essas coisas que fogem da ideia cisterciense de arquitetura são todas adições posteriores à morte de Bernardo de Claraval em 1153, o mosteiro passou por várias reformas ao longo dos séculos, a mais marcante é a fachada barroca. Ainda assim os abades tentaram se manter fiéis à ideia da ordem por séculos, maaaas não foi 100%, né.

Curiosidades
  • O Mosteiro de Alcobaça é o melhor e mais pleno exemplo de arquitetura cisteciense no mundo.
  • A Ordem de Cister foi a ponte entre a arquitetura Românica e a Gótica.
  • Também foi quem introduziu a arquitetura gótica em muitos reinos.
  • A ordem existe até hoje e você pode encontrar vários mosteiros cistercienses pela Europa inteira!
  • A chaminé da cozinha é a maior chaminé medieval do mundo e é considerada uma grande obra da engenharia monástica. Veja foto acima.
  • Quando entrar num mosteiro cisterciense, você vai perceber que, pela ausência de detalhes e coisas dentro da igreja, seus olhos vão direto ao que realmente importa numa igreja, a cruz no altar.

D. Pedro I e D. Inês de Castro, uma trágica história de amor

É no Mosteiro de Alcobaça que se encontram os restos mortais de D. Pedro I de Portugal e de Inês de Castro, protagonistas do “Romeu e Julieta” português.

D. Inês de Castro, jovem galega de extraordinária beleza, chega a Portugal na comitiva da princesa D. Constança Manuel, esposa do infante D. Pedro, futuro Rei de Portugal. D. Constança era filha de D. João Manuel de Castela que por sua vez era neto do rei Fernando III de Castela. D. Pedro, embora casado com Constança, ficou perdidamente apaixonado por Inês de Castro, a dama de companhia de sua esposa, e por ela é correspondido em sua paixão. Eles mantiveram um longo caso de amor, extremamente mal visto pela corte.  D. Afonso IV, pai de D. Pedro, não gostando das peraltices amorosas do filho, manda exilar Inês de Castro na fronteira castelhana, isso no ano de 1344.

Em 1345, D. Constança, a esposa de D. Pedro I falece após dar a luz a seu filho D. Fernando I. Ficando viúvo, D. Pedro trás Inês de Castro de volta para Coimbra e os dois vão viver juntos apesar da oposição da corte. D. Afonso IV e D. Pedro se desentendem pois o pai não aceita a situação, mas D. Pedro e Inês continuam juntos. Inês tem quatro filhos dessa ligação.

Os conselheiros do Rei, temendo a influência dos irmãos de Inês sobre D. Pedro e temendo que um dos filhos dela pudesse assumir o reino de Portugal, começam a pressionar D. Afonso IV para dar fim em Inês de Castro. D. Afonso acaba permitindo que seus conselheiros decidam o futuro de Inês de Castro e a decisão foi assassiná-la. Aproveitando a ausência de D. Pedro que saíra para se divertir numa excursão de caça, os fidalgos, Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco vão atrás de Inês e a executam (em algumas publicações dizem que ela foi degolada) no Paço da Rainha em Santa Clara, Coimbra, em 7 de janeiro de 1355. O assassinato de sua amada provoca uma louca fúria em D. Pedro que conduz a uma guerra civil que duraria até agosto de 1356, quando pai e filho fazem as pazes.

A Coroação de Inês de Castro em 1361 (c. 1849), por Pierre-Charles Comte. Wikipédia
A Coroação de Inês de Castro (depois de morta). Obra de Pierre-Charles Comte. Wikipédia.

Quando D. Afonso IV morre e D. Pedro I assume o trono, ele se vinga da morte de Inês mandando assassinar seus executores. Diogo Lopes Pacheco conseguiu fugir para França, mas os outros dois foram executados com requintes de crueldade. Em junho de 1360, D. Pedro faz a declaração de Cantanhede, afirmando que havia se casado secretamente com Inês de Castro, em 1354, em Bragança, “em dia que não se lembrava”. As palavras de D. Pedro I, já como Rei de Portugal, do capelão e do seu criado foram provas suficientes para legalizar o casamento e com isso legitimar os filhos que tivera com Inês.

Diz a lenda que D. Pedro I mandou executar uma cerimônia de coroação da Rainha Morta e que havia imposto à corte a cerimônia do beija-mão da defunta. Não se sabe se é verdade ou se faz parte do imaginário popular.

D. Pedro I manda construir no Mosteiro de Alcobaça dois monumentais túmulos. Os restos mortais de Inês de Castro foram transladados para o Mosteiro em 1361. Em testamento, D. Pedro I determina que quando de sua morte, seus restos mortais também devem ser sepultados no Mosteiro de Alcobaça, o que assim foi feito em 1367 quando ele faleceu.

Túmulo de Inês de Castro no Mosteiro de Alcobaça, Portugal.
Túmulo de Inês de Castro no Mosteiro de Alcobaça. Foto: Maria Vitória

Os dois túmulos estão colocados frente a frente dentro da Igreja. E assim terminou essa história de amor, poder e traição.

Túmulo de D. Pedro I no no Mosteiro de Alcobaça, Portugal.
Túmulo de D. Pedro I no Mosteiro de Alcobaça. foto: Maria Vitória

Três reis de Portugal, todos da 1ª dinastia, estão sepultados no Mosteiro de Alcobaça. D. Afonso II, que morreu de lepra aos 38 anos de idade, D. Afonso III e D. Pedro I. Pedro I, que faleceu de epilepsia aos 47 anos, é o rei que se apaixonou pela bela Inês de Castro. Fonte: Vortexmag

Informações Úteis

Como chegar
O Mosteiro fica a 122 km de Lisboa. De automóvel dá aproximadamente 1h30 de viagem, pela autoestrada A8.

Horário de visitação
Outubro a Março – Das 9h às 18h (última entrada 17h30)
Abril a Setembro – Das 9h às 19h (última entrada 18h30)
A bilheteira encerra 30 minutos antes do fechamento do monumento
Fechado em: 1 de Janeiro, Domingo de Páscoa, 1 de Maio, 20 de Agosto e 25 de Dezembro

Compra de bilhetes e descontos
Pode ser comprado o bilhete individual (só para o Mosteiro) ou o bilhete Patrimônio Mundial que engloba: Mosteiro de Alcobaça, Mosteiro da Batalha e Convento de Cristo (Tomar). Há desconto se for comprado o pacote, mas atenção, o pacote é válido só para 7 dias.

Há desconto para pessoas com 65 anos ou mais, para estudantes e também há o desconto família. Se você for estudante no Brasil, ou estiver viajando com seus filhos que são estudantes, faça e leve a carteira internacional de estudante, vai fazer uma boa economia. Para informações sobre o valor dos ingressos e condições de desconto, acesse o site do Mosteiro.

#Dicas do Conheci e Curti
– Planeje 1h a 1h30 para conhecer o Mosteiro de Alcobaça.
– Faça os passeios em Lisboa utilizando o transporte público e alugue um automóvel para conhecer Portugal, além das cidades de Lisboa e Porto.
– Se estiver saindo de Lisboa de automóvel, aproveite para conhecer a  Vila de Óbidos e depois vá para Alcobaça.

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6. Palácio Nacional da Pena
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Palácio da Pena
7. Torre de Belém
Santa Maria de Belém, Lisboa
Torre de Belém, Portugal
* As Sete Maravilhas de Portugal foi uma iniciativa apoiada pelo Ministério da Cultura de Portugal e organizada pelo consórcio composto por Y&R Brands S.A. e Realizar S.A. que visou eleger os sete monumentos mais relevantes do patrimônio arquitetônico português.
Fonte: Wikipédia

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Referências de Pesquisa
Mosteiro de Alcobaça
Patrimônio de Portugal
Descobrir Portugal
Mosteiro de Alcobaça – Wikipedia

Foto de capa: Dilma Xavier
Texto: Dilma Xavier com a colaboração de Maria Vitória

4 comments

  1. Estive nos mosteiros de Alcobaça e Batalha.
    Realmente é um passeio no passado e na história de Portugal.
    Vale a pena conhecer.

    1. Oi Eudelcio, são realmente impressionantes. Eu aprendo muito da história em uma viagem. Estudo antes de ir e estudo depois para poder escrever aqui no blog. Portugal me encanta porque temos muita herança portuguesa, seja em nossa arquitetura colonial, ou na nossa descendência, ou mesmos em pequenos detalhes como o calçamento em petit pavê, ou a decoração da casa de nossos avós. 🙂

  2. Este romance medieval é relatado em livro psicografado por Chico Xavier com o nome de Ignes e Pedro, ditado pelo espírito que foi D. Pedro I de Portugal.
    Ao lê-lo, é como se estivéssemos refazendo a caminhada de ambom, revivendo os momentos felizes de Igens e Pedro.
    É emocionante, como se voltássemos nos séculos que separam este romance.
    Ignes só queria ser feliz junto a Pedro e aos filhos, cultivar suas rosas e ajudar a população local, esquecida por Lisboa.
    A narrativa tem a força de quem a viveu, com os sentimentos e emoções do casal, bem como recria o ambiente da época.
    Inesquecível.
    Pode ser adquirido o livro em:
    https://www.candeia.com/ignez-e-pedro/p

    1. Oi Hermeto, tudo bem? É uma história trágica! Eu fiz questão de colocar no blog um resumo da história de Pedro e Inês, porque algumas vezes visitamos lugares históricos sem termos o conhecimento da história, dos amores ou das tragédias que marcaram aquele lugar ou os personagens que estão sepultados naquele local que visitamos.

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